segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

FUGAZ É A VIDA


Sempre que havia baile no GRECO, lá estava ele, jovem, enxuto, olhando e sentindo junto ao seu corpo, as lindas amigas e vizinhas do Bairro que com ele dançavam.

Foi assim durante dois, três anos. Foi um tempo em que o tempo corria a voar...

Depois saiu de Coimbra, o GRECO acabou e esse tempo não se repetiu mais.

Na azáfama da sua nova vida, o tempo parecia já não correr, arrastava-se lentamente, quase imperceptivelmente. De tal forma que ele, distraído, nem viu o tempo a passar...

Como foi possível que só tenha percebido isso quando se olhou ao espelho, muitos anos depois, e viu que afinal o tempo que ele não vira, tinha passado a correr, tão depressa?

Agora, sempre que o tempo passa, ele acha-o demasiado veloz, como no tempo do GRECO, e chega-se-lhe a ouvir o lamento da sombra do tempo passado, a dor por tê-lo desperdiçado e a revolta por se ter esquecido de viver plenamente o seu tempo.

Rui Felício

14 comentários:

  1. A bela escrita aliada ao charme de um homem de 60
    anos...

    Será sintoma de envelhecimento???
    Não!
    Sim!
    Talvez!

    Que importa?
    Se a sabedoria é o sinal positivo de ser velho...

    E já agora:
    Recordar é Viver!

    E os outros " malandros"e "malandras" do nosso bairro e da foto o que é que têm a dizer sobre a fugacidade do tempo bem descrita por ti???!!!

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  2. Sem ser a figura central da fotografia, o Abilio não deixa de ser, com aquele olhar a espreitar a objectiva, aquele que mais saudades e recordações do GRECO me traz.
    Era assim o Abilio. Sempre presente. Sempre rodeado de perto pelas meninas...
    Olhar esta fotografia é recordar aqueles inesqueciveis tempos.
    E, como diz a Olinda, recordar é viver.
    E viver é ainda melhor que recordar...

    Rui Felício

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  3. O Felício teve a capacidade de sair de si próprio para descrever o que lhe vai na alma.

    Uma coisa posso adiantar cada um de nós naquele tempo ia-se safando como podia apesar de nunca interiorizar a quantidade de "tampas" que pelo caminho ia coleccionando.

    Tempos velhos em fresca memória dos bons momentos passados, fazem bem ao espírito e retemperam a esperança de que ainda muitos e bons momentos podemos viver.

    Nunca perdemos o tempo o tempo é que nos vai perdendo.
    Um abraço
    Abílio

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  4. Nós os charmosos de 60 e tal vamos dizendo coisas bonitas... que desejamos que nos digam ...mas reconhecer "alguma" velhice convenhamos que é muito chato... "como diz o outro"!

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  5. A vantagem do GRECO é que normalmente não havia tampas, porque éramos todos amigos uns das outras e vice-versa.
    As tampas a que o Abilio se refere eram as dos bailes de finalistas, dos clubes recreativos, das festas de aldeia, das fogueiras de S. João.
    Suponho, porém, que o Abilio não deve ter coleccionado mais que uma pequena dúzia...
    Ao contrário de muitos outros que coleccionavam dúzias de dúzias..

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  6. E lembrei-me de uma lengalenga sobre o tempo...
    Aqui vai:

    O tempo pergunta ao tempo
    Quanto tempo o tempo tem.
    O tempo responde ao tempo
    Que o tempo tem tanto tempo
    Quanto o tempo tem.

    E sobre a história das nossas vivências no GRECO e KAMUC :

    A história é uma sucessão sucessiva
    dos sucessos que se sucedem
    sucessivamente.

    E pronto!

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  7. Tampas no GRECO só se fossem das panelas do cup... (lê-se câpe)
    Numas fogueiras em Celas em noite de lua cheia só uma pequena linda como a noite me não deu tampa, mas isso são outras estórias.

    Estou a ver a Olinda sem folgo a dizer, de boca bem aberta e com sorriso de ponta a ponta, que na história sucessivamentre se sucedem os sucessos de forma sucessiva e em sucessão.
    Quem acredita que a história é feita de sucessos?
    Abílio

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  8. não só de sucessos mas também de tampas...e quantas de nós meninas as apanhámos porque os nossos desejados não reparávam em nós...

    Já que não consegui provocar-vos com a "achega" do envelhecimento vou deixar-vos na vossa deambulação pelo bons tempos da juventude.Força!

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  9. Pois é, Olinda!
    Gostamos pouco de reconhecer que estamos velhos.
    Mas a velhice também tem coisas positivas. Por isso, aproveito a tua "provocação" para dizer aquilo que tu também deves saber.
    Amar na juventude é impulso, é paixão desenfreada...
    Nem dá tempo para usufruir o que de bom tem o amor.
    Nem se chega a perceber quão lindo ele é..
    Não se chega a tirar pleno proveito dele, dada a fugacidade ( para usar a palavra que serve de tema ao post...)do prazer e do gosto que a paixão nos trás..
    Quando se é jovem, chega-se a sofrer por amor, na ânsia de o ter...
    Chega a ficar um sentimento de frustração e de desilusão, porque, no fim, nos parecia que o amor nos não dera tudo o que ilusoriamente nos prometia...
    Na velhice, tudo é diferente!
    A paixão é mais ponderada, mais racional..
    Mais verdadeira, também.
    E o amor, então, flui calmo, como correm as águas de um rio manso e profundo...
    Permitindo-nos desfrutar de todos os prazeres que a experiência da vida nos foi ensinando...
    Na velhice, é possível rebobinar e recomeçar tudo de novo...
    Porque já sabemos que a pressa é inimiga do bom.

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  10. Que três "velhotes" maravilhosos !
    Rui, tu continuas a encantar com os teus comentários fantásticos, cheios de imaginação!
    Abilio, amigo "avençado" ( esta, só nós percebemos...,) continuas sempre actualizado e isso é que conta no contexto do vosso tema.
    E tu, Olinda marota, que gostas de espicaçar os meninos, que assim dão resposta e contra resposta - mesmo eu não resisti, vês ? os jovens são assim, impulssivos...
    Continuem assim, velhotes do meu tempo, gosto de vos ler e de certo não serei só eu.
    Um beijo
    Olga

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  11. Quem é esta jovem? Quem é esta Olga? O nome não me é estranho...
    Será a miúda que aquele paraquedista nortenho que aterrou em Coimbra, em tempos remotos ( mas nem tanto ) e a raptou, deixando os seus vizinhos de cara à banda por terem deixado distraidamente ser-lhes levada uma das mais bonitas raparigas do Bairro?
    A propósito, que é feito dele?

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  12. A fugacidade da vida é o tema ! Não me vou deixar pescar, como um qualquer carapau, por anzol atrevido...

    Então:

    Os nossos verdes anos, vejo-os hoje, como uma autêntica vertigem. A velocidade com que os vivemos, fruto da intensidade das inúmeras paixões que nos inflamavam não só o coração mas também a alma, deixa-me um sentimento de culpa por não ter sabido melhor aproveitar aquele tempo. Mas era tempo de viver, intensamente, velozmente, sofregamente. A paixão era grande. Havia que haver tempo para a paixão do amor, mas também para os outros amores ...
    É aqui que entram todos os "GRECOS", todos os espaços que possibilitavam o convívio entre jovens que, no essencial, apenas cometiam o crime de quererem conviver.
    A tudo isto havia que juntar as paixões pelo futebol, pelo xadrez, pelas damas, pelo bilhar.
    A paixão, ainda, do conhecimento adquirido através de longas conversas com os amigos mais íntimos. Conversas essas que, por falta de tempo, eram tidas madrugadas dentro... muitas vezes acompanhadas por uma garrafa de "Teobar".
    E ainda conseguíamos algum ( pouco) tempo para estudar !
    Uma autêntica viagem em vertigem !
    Penso que todos nós, os jovens dos anos 50/60 a teremos vivido de forma idêntica, com mais "Teobar", menos "Teobar", com mais xadrez, menos xadrez, mas a a vertigem terá sido muito comum a todos nós.

    Depois, vem a viagem em cruzeiro... em que cada um fez a sua.

    Depois, vem o hoje !
    Hoje, voltamos para o mesmo barco. Deixem-me socorrer de Galileo Galilei para melhor sintetizar:
    Alguém lhe perguntou:
    - Que idade tens?
    - Talvez dez, talvez doze, não sei bem - respondeu Galileo acariciando a sua farta barba grisalha e, perante o olhar interrogativo do outro, acrescentou:
    - Tenho os anos que me faltam viver que não sei ao certo quantos são. Aqueles que já vivi não os tenho, já os gastei.
    Galileo que para além de astrónomo era filósofo, filosofou:
    - Ontem já foi ontem. Amanhã será amanhã. Vive hoje este momento comigo porque não sabemos se teremos outro.

    E pronto !
    Afinal de contas o carapau foi mesmo pescado e até está a armar em carapau de corrida...
    Abraço para todos e um especial para o Pescador.

    Carlos Viana.

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  13. Já tentei ser pescador.

    Nunca o consegui ser como queria.

    Fui sempre um pescador de meia tigela, como já alguém aqui disse assisadamente...

    Mas desta vez, muni-me da paciência necessária, esperei, esperei sem puxar a linha, e fui contemplado pela sorte!

    Pela sorte e algum saber. Porque o isco que usei era por demais aliciante para o fazer morder o anzol.

    Em vez de um carapau, saiu-me um chicharro dos grandes!

    Daqueles que só um pescador experimentado ou alguém, como eu, com a sorte a bafejá-lo, consegue pescar...

    Mas valeu a pena esperar, só para ler o que ele escreveu. Há poucos que o consigam fazer tão bem...

    Refiro-me ao pescado e não ao pescador!

    Rui Felício

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  14. Adoro ler estas recordações que desejaria ter feito parte do Greco/Kamuc mas o meu Pai com as suas promoções de carreira levou-me ate á Amadora durante +-6 anos. Ao retornar a Coimbra pedi para entrar mas foi-me negada!!! Porquê?!! não sei. Mas vou ao almoço festejar!!!

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